I organize and curate pop-up art exhibitions, typically showcasing up and coming artists based in New York.

Guestbook

Adriana K R
Lindaaaa expo!!!!
Flavia Soeiro
Lindooo!
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Bernardo Faria
Charmene de Cara

pedra sem-mundo

Gisela Projects

'A pedra é um ser sem mundo’.

A frase ecoa há tempos em mim. Ouvi pela primeira vez em uma conferência, na qual citava-se o filósofo alemão Martin Heidegger. Para ele, a pedra, diferente de outros seres, como a lagartixa, não tem o mundo: ela está sobre o mundo quando repousa na superfície terrestre. Não há um desejo ativo de possuí-lo e de com ele trocar. A pedra não toca o mundo.

Outro filósofo contemporâneo responde diretamente à Heidegger: Jean-Luc Nancy. Ele nos pergunta: será o tato sempre o desejo de possuir o outro? Ou será a impossibilidade de tocar uma evidência dos limites abissais que existem entre todas as coisas do mundo – mesmo quando estão em relação direta?

Ao contrário (e a partir) destas teorias, o toque revela o espaço entre: o espaço da pedra, do mundo e o espaço do porvir que existe no contato. No toque entre as coisas está contido tudo aquilo que é, a priori, impossível de existir junto. Quais seriam as impressões expressas por uma pedra depois de repousar sobre um pedaço de madeira? Ou o que acontece depois de deixá-la encostada no gelado de uma superfície metálica?

A pedra é com-mundo quando toca a madeira ou o metal.

Nos trabalhos reunidos na mostra, há um perceptível desejo pelo toque: as artistas operam na justaposição e no trançar entre superfícies e elementos compositivos. Costurar; juntar objetos aparentemente inanimados com linhas e tentar ouvi-los, tecer grandes estruturas e esculturas com materiais encontrados; pintar e bordar folhas de plantas que tem seus limites diluídos em uma espécie de floresta; e justapor elementos que remetem a distintas cosmogonias (ou à história da arte) em composições permeadas de humor; são alguns dos procedimentos dos quais se utilizam Bianca Kann, Chiara Banfi, Goia Mujalli, Manuela Costa Lima e Melissa Dadourian.

A linha é o elemento que dá a ver o toque. Em alguns dos trabalhos, ela é tensionada e estrutura novas superfícies; em outros, é frouxa e permite o desenho. Nunca está parada e indica que existe movimento em potência entre as superfícies que encostam. Pedra, cerâmica, madeira, tinta, semente e tecido tocam-se e tornam-se outros. Tudo é passível de costura e conecta-se pela linha, criando relações, novos significados e tempos.

A exposição é um convite para que sigamos as linhas entre as superfícies nos trabalhos, e que deixemos que elas nos guiem pelo espaço. Ela é também uma espécie de elogio ao toque. No dia que escrevo este texto, a OMS declara o fim da emergência sanitária da pandemia de Covid-19, período no qual nossos corpos foram, de alguma forma, impelidos a tocar menos. Os trabalhos nos lembram da potência do encontro entre as distintas matérias e nos chamam a tocar de novo, de perto, o mundo que nos cerca.

Ana Roman 

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